Entrevista com Letícia Maria Nogueira Salum
Graduada em Musicoterapia pela Faculdade de Artes do Paraná, Pós-Graduada em Educação Especial, em Psicologia Corporal Reichiana e em Neurociência com Ênfase em Música.
Por que você escolheu Musicoterapia?
Entrei na faculdade de musicoterapia por curiosidade e por estudar música (piano clássico, na época). Fui me apaixonando cada vez mais pelo curso e até completar a graduação, fiquei muito envolvida com a área.
O fator importante para mim nesta decisão foi aliar a música à saúde.
O que faz um Musicoterapeuta?
Utilizamos a música e os seus elementos como forma de terapia. Os objetivos da terapia variam de paciente para paciente; cada caso é um. Ouvimos as queixas do paciente e/ou da família; e, durante o processo terapêutico, avaliamos se há necessidade de incluir outros objetivos.
Fazemos um estudo sobre o histórico musical do paciente junto ao mesmo e/ou à família. Atuamos dentro deste histórico e também considerando outras escolhas e/ou reações do paciente a outras possibilidades musicais.
O paciente não precisa executar nenhum instrumento musical nem entender da linguagem musical.
A musicoterapia pode atuar no tratamento de todas as pessoas, não necessitando necessariamente ter uma deficiência, alguma doença orgânica ou mental… Há pessoas que são apenas neuróticas, como todos somos, e que buscam tal tratamento.
A musicoterapia tem como material de trabalho principal a música (com todos os seus elementos).
Ter uma especialização na área de psicologia é necessário, no meu ponto de vista, pois dá um suporte maior para você entender algumas questões, sintomas e reações que vão surgir dentro da sessão de musicoterapia. Este suporte, obviamente, não nos dá a possibilidade de atuarmos como psicólogos (a não ser que tenhamos também a formação nesta área), mas nos auxilia para termos mais segurança e capacidade de mantermos um bom trabalho musicoterapeutico. Quando surgem questões psicológicas que vão além de nosso entendimento, devemos encaminhar para o psicólogo.
A musicoterapia é uma escolha terapêutica como qualquer outra escolha dentro das inúmeras possibilidades que existem. Eu acredito que a musicoterapia abre caminhos para que materiais emocionais venham à tona, pela possibilidade que a música oferece; e auxilia muito no desenvolvimento da fala, através de atividades com canto; dá uma melhor noção corporal, facilitando o trabalho de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e afins; melhora a consciência rítmica, o que auxilia a pessoa com questões de ansiedade, de falta de atenção; auxilia na respiração quando se atua com atividades vocais; libera energia corporais bloqueadas; além de muitos outros benefícios.
Quais foram as atividades principais na sua carreira?
Já atuei na área da doença mental infantil, da deficiência intelectual, com crianças na fase pré-escolar, do ensino regular, com pacientes com cegueira ou baixa visão, com pacientes sindrômicos, com pacientes com Alzheimer e com pacientes com outras questões neurológicas.
Também atuei com a supervisão de estagiários em musicoterapia.
E como é o seu dia a dia profissional típico?
Atualmente atuo na clínica de uma escola especial, onde o foco principal é o atendimento interdisciplinar (as terapias são todas conectadas umas às outras, buscando o desenvolvimento do paciente com uma linguagem comum a todos os profissionais) a deficiência físico-motora, mas onde há também pacientes que têm associadas síndromes, questões emocionais, questões visuais e deficiência intelectual.
E trabalho, também, em uma clínica particular, numa equipe interdisciplinar, com o objetivo principal da reabilitação do paciente.
Dentro da musicoterapia, atuo com a psicologia corporal (aqui o trabalho se dá com a leitura corporal e a partir do diagnóstico realizado, com atividades com expressão corporal e dança).
Que tipo de ferramentas, recursos, ideias e metodologias um Musicoterapeuta utiliza?
Utilizo instrumentos musicais em geral, dependendo da escolha do paciente, e das possibilidades quando o trabalho é a exploração por parte dele e suas reações positivas e/ou negativas.
Atuo, ainda, com a exploração instrumental, com o canto e a expressão corporal, além da musicoterapia receptiva e da massagem biodinâmica (linha da psicologia corporal que acredita que nossas vivências emocionais estão registradas no corpo).
E utilizo, também, métodos de audição musical; recriação musical; improvisação musical e composição musical.
Como está o mercado de trabalho em sua profissão?
A musicoterapia ainda é bastante desconhecida e desvalorizada pela própria área da saúde, porém já houve crescimento comparando-se com 30 anos atrás.
Quais seriam as principais áreas de atuação na Musicoterapia e o que fazem?
O musicoterapeuta pode atuar na área da saúde, da educação, e em empresas.
Qualquer pessoa pode se beneficiar da terapia realizada por esta ciência.
A musicoterapia tem muitas linhas de atuação e diariamente se tem descoberto dentro da neurociência o quanto o cérebro pode ser beneficiado e, consequentemente, corpo e mente como um todo.
Quanto ganha aproximadamente um profissional com sua formação?
Por ser uma profissão ainda desvalorizada, a remuneração não é tão atrativa.
Quando há necessidade de cortes por parte da família ou do próprio paciente, a musicoterapia, geralmente é a mais focada.
Eu acredito, no entanto, que devemos investir nesta ciência, que traz benefícios significativos ao ser humano, e que utiliza a música, o único estímulo que atinge totalmente o cérebro (mesmo tendo uma área definida para tal). Por exemplo, um estímulo visual, atua na sua área cerebral específica, um estímulo musical abrange o cérebro como um todo.
Quais as principais vantagens dessa profissão?
A vantagem é perceber o quanto é eficaz utilizar tal terapia.
Minhas alegrias são cada vocalização expressada por um paciente que tem dificuldade para tal; a ampliação de movimentos corporais em um paciente; a canalização de algo emocional que traz ansiedade, desconcentração, alteração de humor, angústia e outros sintomas que trazem dores/tristeza para os pacientes; a capacidade de criação ou recriação musical de alguém que não tinha descoberto esta possibilidade em sua vida… e tantas outras…
O sorriso de um ser humano mais tranquilo e feliz consigo mesmo.
E quais as maiores dificuldades e desafios?
As maiores dificuldades são o fazer-se conhecer enquanto profissional que tem a ciência desta atuação comprovada.
Os desafios são mostrar aos pacientes e aos interessados o quanto se pode evoluir com os elementos musicais em uma terapia. O quanto podemos utilizar a música, em casos específicos, para suspender medicamentos (isto, obviamente com todo o processo da terapia e com o aval do médico e/ou da equipe de saúde envolvida).
O que se estuda na faculdade?
Matérias musicais, médicas, sociais e psicológicas. Por exemplo: Aulas com instrumentos musicais, aulas de canto, anatomia, aulas dentro da área da fonoaudiologia, sociologia, psicologia, expressão corporal, aulas de criatividade, de composição e criatividade musicais… e tantas outras.
O curso de bacharelado dura quatro anos.
Quais matérias do colégio são mais importantes ao se preparar para essa carreira?
Matérias ligadas ao desenvolvimento humano como biologia e sociologia.
Há outras aprendizagens e experiências importantes ao longo da carreira?
A busca de um suporte (especialização) em alguma linha da psicologia. Esta nos dá uma possibilidade melhor de análise da musicoterapia.
Como deve ser a personalidade e quais devem ser os interesses, desejos e valores de alguém que segue Musicoterapia?
O olhar humano; o desejo pelo conhecimento e estudo das reações aos estímulos musicais sobre outro ser humano; a paciência pelo ritmo interno de cada paciente; o estudo musical; o estudo psicológico; a troca com outros profissionais de outras áreas, como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, médicos, fonoaudiólogos e outros.
É necessária alguma habilidade anterior?
O conhecimento musical. Quando eu realizei o vestibular, existia a prova vocal, a instrumental e a auditiva (dentro da questão musical).
Soube há pouco tempo que algumas faculdades, no Brasil, já não exigem um conhecimento abrangente. Concordo com isso, desde que a faculdade cobre do aluno, além de aulas musicais dentro do curso, que busque aulas musicais externamente.
Existem filmes que exemplifiquem sua área profissional?
Sim: Quero ser Musicoterapeuta; a Música Nunca Parou; Descobrindo a Musicoterapia… e tantos outros.
Quem seriam profissionais de amplo reconhecimento ou figuras históricas de sua área?
Clotilde Lening, Bruscia Kenneth, Lia Rejane, Marli Chagas…
E você teria alguma orientação específica para quem deseja seguir Musicoterapia?
Estar em contato com o estudo musical e procurar leituras que falem do desenvolvimento humano em todas as áreas (mentais, emocionais, físicas), buscar conhecimento na neurociência e na psicologia.
Em vários Estados há o curso de musicoterapia, buscar por faculdades que o tenham. No Paraná, temos a FAP – Faculdade de Artes do Paraná, em Curitiba.
Como alguém pode fazer para saber mais sobre Musicoterapia?
Buscar conhecimentos através de profissionais e estudantes em faculdades que tenham este curso; com profissionais que atuem com a musicoterapia em instituições, clínicas, escolas. Fazer pesquisas em sites confiáveis e em vídeos no Youtube.
Links recomendados:
UBAM – União Brasileira das Associações de Musicoterapia
Associação de Musicoterapia do Paraná
Revista Brasileira de Musicoterapia
Centro de Musicoterapia Benenzon Brasil
Musicoterapia – Portal de Divulgação Científica do IPUSP
Vídeo: Minuto Musicoterapia – Como Funciona a Musicoterapia