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Entrevista com José Ricardo Cereja
Graduado em Desenho Industrial (ESDI/UERJ), Mestre em Design (PUC-Rio), Doutor em Engenharia de Produção (COPPE/UFRJ).
https://www.linkedin.com/in/cereja/
Por que você escolheu Desenho Industrial?
Quando somos adolescentes temos muitas ideias na cabeça. Somos bombardeados com informação de todos os lados. Para a escolha da carreira não é diferente, há pressão da família, escola, colegas, cada um valorizando sua experiência pessoal. Meu caminho foi um tanto inusitado, mas não diferente do processo de muitos outros jovens como eu.
Eu venho de cidade pequena, morava em Nova Friburgo. Naquele tempo, nos idos dos anos de 1980, as possibilidades de curso superior eram pouquíssimas por lá: a pessoa escolhia basicamente entre odontologia, administração ou filosofia (que eram as faculdades locais disponíveis). Ou então, seguiria sua carreira no comércio ou alguma formação em educação básica.
Eu tinha habilidade com desenho, desenvolvia técnica em atelier de artes e queria fazer algo relacionado a isso. No entanto, nos anos de 1980 era o boom da informática e tudo girava em torno a estimular as pessoas para a “profissão do futuro”. Influenciado pelos professores, me inscrevi para o vestibular de informática. Com foco nesta profissão, entrei para um curso de programação para já me ambientar com o mundo da tecnologia. Foi aí que descobri que não queria ser um profissional voltado para programação, números, linguagens específicas etc. Minha vocação era mesmo o desenho.
Embora eu tivesse sido aprovado para uma faculdade pública, retornei ao colégio em que estudava e fiz novamente o 3o. ano, já convicto de seguir uma carreira que envolvesse desenho e criatividade. Não tinha a menor ideia do que era “design”, mesmo porque nesta época este termo não designava a profissão que era denominada “Desenho Industrial”. Busquei num guia de profissões do vestibular informações sobre as engenharias e a arquitetura, no entanto as descrições soavam muito técnicas e isso me parecia tolher a criatividade. Fui ao outro extremo e comecei a pesquisar sobre o curso de belas artes e de publicidade. Enquanto o primeiro me parecia solto demais, o segundo falava sobre a persuasão e eu não queria tratar com este tipo de atributo. Eu queria algo que unisse a técnica sim, mas com a liberdade criativa, que pudesse criar peças com um propósito, que não estivesse preso a réguas, mensurações mas que também não fosse tão solto, intangível ou obstinadamente comercial.
Foi então que me deparei com o “Desenho Industrial”. A descrição dizia algo como: criar objetos que facilitem a vida e traga bem estar ao homem. Eu disse: é isso! Vou poder usar o desenho para o bem das pessoas, da sociedade.
O que faz um profissional de sua área?
O designer é um profissional multidisciplinar; pode atuar em diversas áreas. Em síntese, produz objetos bidimensionais (design gráfico) ou tridimensionais (design de produto) que tem como objetivo tornar mais fácil e agradável a vida das pessoas.
Para entender de forma prática, o design está em tudo; desde a escova de dente, à embalagem da pasta de dente, ao design da torneira da pia, aos talheres da mesa, a garrafa de café, carros, cartazes, folhetos, logotipos, painéis… De um chaveiro, a um Boeing. De uma cadeira, a uma lancha de passeio. De um simples desenho de marca, até uma campanha inteira de divulgação de um produto.
E são estas inúmeras possibilidades que tornam esta profissão tão interessante.
Que tipos de trabalhos você já fez?
(rs..rs..rs..) Esta é uma pergunta interessante. Eu já transitei por diversas áreas do design. Já trabalhei com comunicação visual, publicidade, animação, educação etc. Na verdade, pra mim não importa o tipo de trabalho. O mais importante é o aprendizado da metodologia de abordagem do design para desenvolver qualquer tipo de produto. É isso que faz com que possamos atuar em diversas áreas, salvo aquelas que exigem conhecimento muito específico.
Como é o seu dia a dia profissional típico?
Hoje eu me divido entre duas áreas principais: a comunicação e a gestão de negócios. Isso porque o mestrado e, principalmente, o doutorado foram ampliando as possibilidades da minha atuação profissional. Mas eu sempre levei o design comigo. O doutorado em Engenharia de Produção, por exemplo, foi com foco em gestão e inovação; e eu trabalhei com comunicação na pesquisa da tese. Hoje eu sou professor da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), lotado no Depto. de Informática Aplicada, onde sou responsável pelas disciplinas de: Empreendedorismo, Análise Empresarial e Desenho para Engenharia (esta última atendendo à demanda da Escola de Engenharia de Produção).
Paralelamente, sou consultor de projetos de Design Thinking para um empresa de tecnologia e faço parte do conselho executivo de uma agência de publicidade que atua com comunicação online e também offline.
Ou seja, tenho dias animados. :-))
O Design Thinking O Design Thinking é uma abordagem para a solução de problemas que visa coletar informações das diversas pessoas envolvidas em um projeto e dar convergência as estas ideias, impressões, insights e opiniões. Desta forma são geradas soluções criativas e inovadoras para as mais variadas questões.
Que tipo de ferramentas, recursos, ideias e metodologias um designer industrial utiliza?
Quando preciso produzir alguma peça de design, utilizo as ferramentas de design gráfico e de produto (Adobe Photoshop, Illustrator, InDesign). Para as minhas apresentações, palestras, aulas etc, utilizo o Keynote (que é uma espécie de PowerPoint do Mac). Já metodologias, trabalho com Design Thinking desde 2005 quando ainda era pouco difundido por aqui; e sou pesquisador na área de BPM (Business Process Management). Utilizo também no trabalho de consultoria algumas metodologias de gestão (BSC, por exemplo).
BPM é uma sigla em inglês que significa “Gestão de Processos de Negócio”. Trata-se de uma abordagem que tem como objetivo tornar os processos das empresas mais fáceis, compreensíveis, funcionais e eficientes. A ideia é captar informações sobre a execução dos processos, analisar e propor novas formas de fluxo e melhorias. Assim, as empresas podem ter uma visão mais ampla do negócio e tomar decisões estratégicas com maior clareza.
Como está o mercado de trabalho no Desenho Industrial?
Minha resposta para esta pergunta é: não falta oportunidade para quem é “bom” profissional. No entanto, ser bom não é apenas cumprir com as obrigações da faculdade, se formar e ter habilidades. Este “bom” reúne: proatividade, dedicação, ética, respeito, perseverança, colaboração, diferenciação, tudo aquilo que vai fazer o profissional se destacar em relação aos seus concorrentes.
Tecnicamente, o mercado está retraído como um todo. Como o designer é, no geral, um prestador de serviços que atua atrelado a estruturas maiores – tais como: agências de publicidade, tvs, departamentos de marketing etc – este profissional fica a mercê da oferta de oportunidades destes segmentos. Assim, se há uma crise econômica, como a que enfrentamos no momento, atingindo estas áreas, os profissionais de design terão menos oportunidades e estarão mais sujeitos a cortes. Por outro lado, se há o reaquecimento da economia e estes segmentos voltam a atuar mais, há mais vagas para os designers.
Quais seriam as principais áreas de atuação no Desenho Industrial e o que fazem?
São inúmeras. O design foi se especializando nas últimas décadas, avançando sobre diferentes áreas: design de móveis (mobiliário); design de automóveis; webdesign (sites, hotsites e afins), design de interiores (decoração); design de moda (moda, vestuário e acessórios); design digital (mídias online, interfaces interativas e recursos digitais); design de interação (interfaces de painéis de controle, totens); design instrucional (interfaces para educação), design de jogos etc.
Quanto ganha aproximadamente um profissional com sua formação?
Falar em valores é sempre difícil. Existe a média de mercado para as classes de design júnior (1.200,00 – 2.200,00); designer pleno (2.200,00 – 3.200,00) e designer sênior (3.200,00 – 4.200,00). Porém, o tempo de atuação no mercado pode subir estes parâmetros, principalmente, para designers sêniors. Estes valores vem de um levantamento realizado em 2018 entre os principais serviços online de recrutamento de prossionais de design (Catho, Infojobs, Indeed).
Eu penso que, em termos financeiros, toda carreira vale a pena quando você tem paixão pelo que faz, pois é esta paixão que vai fazer você enxergar inúmeras possibilidades de expandir sua atuação e, consequentemente, alcançar maior remuneração sobre seus serviços. Seja como freelancer, como consultor, trabalhando em projetos ou empregado destacado em uma grande empresa.
Quais as principais vantagens dessa profissão?
Para mim, a maior vantagem desta profissão é que não há rotina. Todos os dias os desafios mudam e obrigam o profissional a buscar soluções diferentes. Por isso, é uma profissão que se alimenta muito de tudo o que acontece ao redor, na sociedade, na cultura, na política, nas tendências, no comportamento humano. Isso traz um dinamismo que muitas profissões não tem.
E quais as maiores dificuldades e desafios?
O maior desafio é manter-se atualizado com tantas informações hoje em dia que impactam o trabalho de design. Como o design trabalha sobretudo com informação, é preciso estar o tempo todo analisando, filtrando, aquilo que realmente será útil para cada projeto e poderá levar a resultados surpreendentes.
Existem tendências que seja possível antever para os próximos 5 ou 10 anos nessa área de trabalho?
Há uma mudança em curso para a área de design. O design, do jeito que era – e ainda é visto – está com os dias contados. As tecnologias permitem que qualquer pessoa possa atuar como o designer de outros tempos, desenvolvendo peças gráficas, imagens etc. Isso vem impactando a atuação do designer, fazendo com que este profissional tenha que atuar mais estrategicamente; o que, em última análise, está no centro da sua formação como um “desenvolvedor de projetos”.
O que se estuda na faculdade?
Na faculdade, o principal é entender a metodologia de abordagem para o desenvolvimento de projetos. Esta é, na minha opinião, a essência do conhecimento em design. Mas não se trata de um conteúdo único. Ele é resultado do entendimento de todas as disciplinas em conjunto: fotografia, desenho, projeto, ferramentas, cores, normas etc.
Quais matérias do colégio são mais importantes ao se preparar para essa carreira?
Todas! O design requer tanto matemática, física, química, por exemplo para entender processos de impressão em cores, quanto biologia, história, geografia, para entender o comportamento humano, características das populações, origens etc.
Há outras aprendizagens e experiências que não são oferecidas pela escola, mas são importantes ao longo da carreira?
Acredito que as disciplinas de artes poderiam ser direcionadas para as carreiras que exigem habilidades específicas (arquitetura, engenharia, design, belas artes etc). Isso traria para a escola experiências e vivências que ajudariam o estudante, tanto na escolha quanto na preparação para a carreira escolhida.
É necessário o conhecimento de outro idioma para atuação em sua área?
Em qualquer carreira, o inglês é um idioma fundamental. Considerando que o design é uma profissão que se alimenta de informação universal, saber inglês é fundamental.
Como deve ser a personalidade e quais devem ser os interesses, desejos e valores de alguém que segue desenho industrial?
Como falei anteriormente, o designer deve ser curioso, ávido por cultura, proativo, ser colaborativo para poder trabalhar em equipe, praticar a resiliência para absorver de forma positiva as críticas e opiniões divergentes, deve estar sempre aberto a novas possibilidades, ideias, buscar caminhos para solucionar os desafios que lhe são apresentados.
É necessária alguma habilidade anterior?
Desenhar é importante porque através do desenho é que se consegue expressar as ideias que darão origem às soluções de projeto. O design é uma atividade absolutamente visual.
Você mudaria algo em relação ao seu caminho profissional para chegar ao ponto em que está?
Não. Faria tudo de novo. Felizmente, fui guiado da forma correta, no tempo correto, tendo em vista sempre aproveitar as oportunidades, mudar de opinião quando preciso, reconhecer os erros e seguir em frente sempre.
Existem filmes que exemplifiquem a área?
Sim, há inúmeros, mas seguem alguns:
– From nothing, something (documentário sobre o processo criativo)
– Abstract: the art of design (Netflix)
– Logorama
– Helvetica (documentário de Gary Hustwit)
– Bauhaus: a face do século XX (sobre a mais famosa escola da história do design)
Quem seriam profissionais de amplo reconhecimento ou figuras históricas do desenho industrial?
Também são muitos. Vou destacar alguns:
– Hans Donner
– Walter Gropius
– Saul Bass
– Alexandre Wollner
– Walter Landor
– Dieter Rams
– Aloisio Magalhães
– Donald Norman
Por fim, que dicas de carreira e de vida em geral você gostaria de oferecer para um jovem que está escolhendo uma profissão nesse momento?
Foque naquilo que você tem paixão em fazer. Costumo dizer que uma profissão é como um casamento. Você tem que entender que deve alimentar esta convivência com tudo aquilo que diz respeito as suas atividades, todos os dias, com amor e dedicação. Escolha uma profissão que, quando você pensar que vai acordar todos os dias e passar o dia fazendo coisas relacionadas a ela, seu pensamento seja de motivação e alegria.
E você teria alguma orientação específica para quem deseja seguir a mesma profissão que você?
Sim, consuma cultura! Preste atenção em tudo e em todos. Na forma como as pessoas se expressam, na arquitetura, nos objetos ao redor, na comunicação, na música, nas artes, na gastronomia etc. etc. Um designer deve criar um repertório amplo de informações e referências de todas as áreas para poder criar e recriar possibilidades.
Como alguém pode fazer para saber mais sobre design?
Indo a eventos, museus, pesquisando na internet, buscando conversar com profissionais da área, visitando agências de publicidade e escritórios de design, visitando as universidades que oferecem os cursos, conversando com alunos e professores para conhecer diferentes realidades sobre a mesma profissão.
Associações profissionais
Associação Brasileira de Empresas de Design
Associação Brasileira de Designers de Interiores
American Institute of Graphic Arts
Associação dos Designers de Produto
Associação dos Designers Gráficos
Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica
Associação Brasileira de Webdesign
Associação Brasileira de Embalagem
Sites interessantes sobre design
https://dribbble.com
https://graphicburger.com
https://thefwa.com
https://color.adobe.com/create/color-wheel/
https://colorhunt.co
https://www.brandsoftheworld.com
https://logopond.com
https://www.awwwards.com
https://www.artstation.com
http://www.yankodesign.com
https://www.behance.net
https://www.designerd.com.br
https://designersbrasileiros.com.br
https://www.chiefofdesign.com.br
https://designculture.com.br
http://www.assuntoscriativos.com.br
http://designontherocks.blog.br
https://clubedodesign.com
Vídeos sobre design
https://www.youtube.com/watch?v=dOe6YCaMygc
https://www.youtube.com/watch?v=9-R-I1NYEKE
https://www.youtube.com/watch?v=-wpwSpnm5gU
https://www.youtube.com/watch?v=AMP1wMoNrG8
https://www.youtube.com/watch?v=qYdn6gnNDcI
https://youtu.be/2OjF40CG4WA
https://www.youtube.com/watch?v=zodT9bCdIiI